Primeiro a tua língua molha o meu coração, num vagar de fera. Estendo aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre os corpos, que des...


Primeiro a tua língua molha o meu
coração, num vagar de fera. Estendo
aurículas e ventrículos sobre a mesa, entre
os corpos, que desaparecem. Não há mais
ninguém no bar cheio de gente. Abres-me agora os
pulmões, um para cada lado, e sopras. Respiras-me.
O lazer das tuas palavras rasga-me o lobo
frontal do cérebro. A tua boca abre-se e fecha-se,
fecha-se e abre-se, avançando
por dentro da minha cabeça. As minhas cidades
ruem como rios, correndo para o fundo dos teus olhos.
O tempo estilhaça-se no fogo
preso das nossas retinas. O empregado do bar
retira da mesa o nosso passado e arruma-o na vitrine,
ao lado dos exércitos de chumbo.
Entramos um no outro,
Abrindo e fechando as pernas
Das palavras, estremecendo no suor dos
Olhos abraçados, fazendo sexo
Com a lava incandescente dessa revolução
Imprevista a que damos o nome de amor.


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